woensdag 19 september 2007

Programa

Destinado a um leque variado de públicos, este Encontro terá uma variedade significativa de filmes, Dança popular, Histórias de Burros, Cante Alentejano, Narrativas e Barragens, Tocadores do Brazil, pastores e sacrificios… a apresentação palestra – filme, de Raquel Castro sobre o som e a identidade Sonora. Um workshop por Tiago Pereira de Vjing narrativo / Media Live act:- as potencialidades tecnológicas do video e do audio para apresentações vivo com o sistema software/ hardware Ms pinky ( que permite controlar audio e video sincronos através de um gira discos). Um passeio a Caçarelhos, para conheçer as suas gentes e ouvir as suas histórias. Uma mesa redonda, onde se fala sobre o trabalho dos realizadores convidados e se discutem as recolhas e as suas utilizações artisticas.


(A programa vai ser brevemente disponivel)

Introdução

“Enquanto fenómeno físico, o som está inscrito em concepções culturais e, no que diz respeito à música, ele pode ser visto como “som humanamente organizado”, para usar uma expressão de John Blacking . Acreditamos, como Alan Lomax, que “há uma relação evidente entre estrutura social da sociedade e padrão de expressão musical” e apontamos, como exemplo, a musicologia portuguesa: no planalto transmontano vigoram ainda formas de vida muito antigas, fechadas, arcaizantes e pastoris. A gaita de foles, ainda que espalhada por outras regiões do pais, assume aqui algumas características particulares, acompanhando alvoradas, procissões e pauliteiros. No Minho as populações são mais conviventes, abertas a várias influências e naturalmente mais progressistas, embora inseridas no seu contexto tradicional. Instrumentos como o cavaquinho ou a viola braguesa acompanham rusgas e chulas, representando o carácter regional das danças e cantares. Compreender estes lugares passa também por escutar as performances musicais aí produzidas, por vezes persistentemente, por vezes fazendo confluir diversas tradições. Alguns destes exemplos estão ameaçados de extinção, seja pelo êxodo nos sítios mais esconsos, seja pela globalização imposta pelos media, que pouco a pouco vai espalhando os seus tentáculos por todo o planeta.”

Raquel Castro

A tradição oral nesta luta contra a extinção, passa também, pela carga emocional que carrega. O lado interpretativo de cada som, melodia ou mesmo cantiga, traz consigo uma forma muito pessoal e reveladora da forma em que se está na vida. As senhoras isoladas nas aldeias do planalto Mirandês ou da serra da Arada, são autoras e simultâneamente interpretes de cantigas e histórias; que algumas vem com os seus pais e com os seus avós e outras que aprenderam no outro dia; o que as torna singular é a sua visao única e pessoal daquele som, ou daquela história. Ora nas artes visuais é a mesma coisa, o cinema de autor, o documentário de autor é também a interpretação única de um tema ou de uma realidade.

Com este encontro, procuramos fomentar uma interacção real destes dois exemplos, durante quarto dias podemos ver, discutir, observar, criar e principalmente ouvir.

A ideia é simples, nada inovadora, mas também nada frequente, convidamos realizadores, com percursos e formas de trabalhar diferentes e levamo-los a trás os montes, a Vimioso, um dos concelhos mais desertificados da Europa, não para filmar mas para conviver, para virem falar do que fazem e ouvirem as pessoas daqui a contar o que fazem, o que faziam, aquilo de que se lembram etc. Ao mesmo tempo vemos filmes em que o som e a tradição oral, sejam uma escolha estética ou formal e discutimos o uso artistico das recolhas, ouvimos palestras sobre identidade Sonora e aprendemos a desconstruir e a recriar com novas tecnologias os sons e as imagens que nos passam à frente dos olhos e dos ouvidos. Quatro dias para sentir uma região, ouvindo as suas gentes e deixar o desejo de voltar mais vezes… e ouvir mais coisas.